oi, gente!

oi, rafa!

Tudo bem com vocês? Hoje vim trazer um post (não é resenha) sobre uma de minha últimas leituras. 


Título original; To Kill a Mockingbird || Autora: Harper Lee || Páginas: 349 || Ano: 1960 || Sinopse: Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça. O sol é para todos, com seu texto “forte, melodramático, sutil, cômico” (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações.


Quando eu ouvia falar sobre O Sol É Para Todos, ouvia falar sobre o racismo, sobre a injustiça que é abordada no livro, sobre os absurdos dos Estados Unidos na década de 30. Eu achei, indo ler o livro, que me depararia com uma narrativa brutal e escancarada sobre as questões racistas da época, e imaginem minha surpresa quando vi que não era bem assim.

“Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.”

O que faz o livro ser diferente é a narradora. Jean Louise Finch (mais conhecida como Scout) é uma menininha de 8 anos, filha do advogado Atticus Finch, e é quem nos conta sobre os acontecidos. Sem ponto de vista é importantíssimo, e é o que faz o livro ser espetacular. Nós não esperamos ouvir uma história sobre racismo pelos olhos de uma criança. A inocência e sagacidade de Scout é o que nos faz sentir apaixonados pelo livro. E também que somos introduzidos à vida naquela cidadezinha pequena e pacata bem antes de sermos introduzidos ao caso mais importante do livro, a defesa de Tom Robinson, o negro acusado injustamente de estuprar uma mulher branca.

“Antes de ser obrigado a viver com os outros, tenho de viver comigo mesmo. A única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa.”

Nas cem primeiras páginas do livro, esse caso não é mencionado. Scout nos conta sobre seus dias de verão com o irmão Jem e o melhor amigo, Dill, e também sobre os primeiros dias de aula, sobre as brigas na escola, sobre as lições do pai, Atticus, e sobre o mistério em cima da casa dos Radley, rondando principalmente Arthur “Boo” Radley, o vizinho que nunca sai de casa, o qual as crianças nunca conheceram, e o pintam como terrível, perigoso e maldoso. 

Esse “causo” infantil me fez não largar os livros nas primeiras páginas, e eu me vi quase que como um membro do grupinho das crianças, tentando a todo custo fazer Boo Radley sair de casa, inventando histórias sobre sua vida e imaginando incessantemente como era sua aparência física.


“Ninguém sabia de que tipo de intimidação o sr. Radley lançava mão para manter Boo Radley fora de vista, mas Jem achava que ele ficava acorrentado à cama quase todo o tempo. Atticus dizia que não, que não era nada disso, que havia outras maneiras de fazer alguém virar um fantasma.”

Na parte II do livro é que vamos saber mais sobre o caso de Tom Robinson, sobre o racismo, sobre o pai de Scout e Jem, Atticus, e sobre a sociedade fora da família Finch. Devo abrir um grande parêntese para falar sobre o advogado e pai, Atticus. Ele é a maior parte do livro, o personagem principal aos olhos de Scout, e aos olhos do restante da cidade também. Atticus, como Scout nos conta, não foi à escola, aprendeu a ler com o avô, e se apaixonou pelos livros. Atticus sempre está lendo, observando. E sendo uma grande parte da vida dos filhos. A forma como ele ensina a Jem e Scout sobre a sociedade, com palavras sempre certeiras e frases que fazem até as crianças pensar, é admirável; não há quem feche a última página do livro sem estar em um caso de amor com Atticus Finch. É elegível para um dos melhores personagens fictícios do século (eu sei que, com certeza, é o meu).

“Eu não gostava de ler até o dia em que tive medo de não poder ler mais. Ninguém gosta de respirar.”

Eu achei que o livro seria desconfortável. Achei que seria uma leitura que me deixaria mal, e, quando paro para pensar na injustiça que de fato aconteceu ao personagem do Tom Robinson, me sinto triste. Mas a ingenuidade de Scout contando sobre aqueles dias fez com que as coisas se tornassem um pouco mais leves. A personagem merece um grande destaque, também, pois é uma das crianças mais espertas e sagazes que já conheci em livros, é do tipo de garota que questiona os costumes da época, se recusa a usar vestidos, está sempre no meio dos garotos, não se importa em fechar os punhos, e ama os livros. Scout também tem uma doçura típica de crianças, sim, mas seu jeito destemido é o que a destaca das outras.

“Tia Alexandra era obcecada pelas minhas roupas. Como eu podia querer um dia ser uma mulher elegante usando suspensórios masculinos? Quando eu disse que usando vestido eu não conseguia fazer nada, ela retrucou que eu não devia fazer nada que exigisse calças compridas. Para ela, eu devia brincar de comidinha, servir chá num aparelho em miniatura e usar o pequeno colar de pérolas que ela me deu quando nasci. Além disso, eu deveria ser um raio de sol na vida solitária do meu pai. Respondi que qualquer pessoa podia ser um raio de sol mesmo usando calças compridas, mas minha tia disse que eu tinha nascido uma boa menina, mas ia piorando a cada ano. Ela me ofendeu e me deixou muito irritada, mas quando eu contei a Atticus, ele disse que na família já tinha muito raio de sol e que eu podia continuar do jeito que era, que estava bom pra ele.”

É muito interessante ler passagens da Scout falando sobre as mudanças de humor do irmão, sobre como ele está começando a se afastar dela (aos 13/14 anos), como ele está “chato” e agora é chamado de “Sr. Jem” pelos mais velhos, e como ele está se achando demais nos últimos meses, e percebermos que ele está atravessando a puberdade, mas ver que a Scout não sabe sobre o que é isso. Para ela, seu irmão sempre será o Jem que tem medo de passar em frente à casa dos Radley, se envolve em brigas com ela e a carrega para todo lugar. A relação dos dois é admirável e gostosa de ler sobre.

“— Queria que você soubesse o que é a verdadeira coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes mesmo de começar — prosseguiu Aticus. — E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Você raramente vai vencer, mas às vezes vai conseguir.”

Como eu já disse, achei que o livro trataria 100% do caso de Atticus Finch na justiça defendendo o jovem e inocente Tom Robinson, mas não. O caso tem seu desfecho dado quando ainda temos uma porção de livro a ser lida. O livro, para mim, é uma história sobre coragem, amor, (in)justiça, bondade, e sobre fazer a coisa certa, mesmo quando tudo ao seu redor pede que faça a coisa errada.

“À medida que for crescendo, vai ver brancos enganando negros todos os dias, mas vou lhe dizer uma coisa e quero que nunca esqueça: sempre que um branco faz esse tipo de coisa com um negro, não importa quem ele seja, quanto dinheiro tenha ou quão distinta seja a família que ele vem, esse homem branco não vale nada.”

Não preciso nem dizer, mas para quem ainda tem dúvidas, esse livro se tornou o meu favorito da vida inteira assim que comecei a ler a primeira página—não precisei terminar a leitura para constatar isso. Ficou bem claro quando eu já não conseguia largar Scout, Jem, Dill e Atticus para fazer outra coisa. Ficou bem claro quando eu já acordava no dia seguinte com o intuito de ler, e passei horas entretida na vida desses personagens tão emblemáticos, mesmo depois de quase sessenta anos de sua primeira aparição nas estantes dos leitores mundo afora. E eu sei que vai continuar causando esse mesmo impacto mesmo daqui outros sessenta anos.

“Remember: it’s a sin to kill a mockingbird

Sobre o filme, vou falar só um pouco para não prolongar mais do que já foi prolongado esse post. Para nós, leitores, O Sol é Para Todos é um livro clássico. Mas para amantes de cinema, também é um filme clássico. Lançado apenas um ano após a publicação do livro, se tornou um sucesso imediato (tanto um quanto outro), e permanece até hoje como um clássico incomparável. O ator, Gregory Peck, famoso por muitos papéis, disse em entrevista anos depois, que de todos, Atticus Finch era seu personagem favorito. A escolha de atores para os personagens principais foi impecável. Quando comecei a ver o filme, no mesmo dia em que terminei o livro, assim que bati o olho na Scout disse “yep, isso mesmo, essa é a Scout bem aí”, porque a Mary Badham como a filha de Atticus Finch foi uma decisão certeira. Ela capturou bem o espírito da garota e interpretou muito bem todas suas caras “tortas” de frente à assuntos desagradáveis.

O filme, para mim, completou meu amor pela história. Não tem como não fazer a ligação dos dois, e é um desses casos em que ter o ator do filme na mente ao ler o livro ajuda, pois Peck é um Atticus perfeito. E o filme, como adaptação cinematográfica, é um dos melhores que já vi. Com 2h09min de duração, cortou poucas cenas do livro, e deixou o absoluto essencial para a trama. Um clássico justo. Outro para a lista de favoritos.

Mary Badham (Scout) e Harper Lee (Autora do livro) no set de gravações de O Sol é Para todos.

To Kill a Mockingbird está no topo da lista de livros que todo mundo deveria ler antes de morrer, e eu não preciso nem dizer que concordo, e recomendo a todos. Absolutamente todos. Não há exceções aqui.

É isso, gente! Eu precisava escrever um post enorme assim, só desse tamanho pra conseguir expressar tudo o que senti com essa leitura — e nem consegui cem por cento. Espero que tenham gostado. J 

Deixe um comentário