oi, rafa.
Pensar.
Planejar.
Ler.
Reler.
Pesquisar.
Encarar a parede por duas horas pensando em todos
os furos no roteiro.
Acordar no meio da noite com uma cena pronta na
cabeça e perder o sono às quatro da manhã.
Pensar. Pensar mais um pouco e parar no meio da
hora do almoço, com o garfo no meio do caminho, pensando mais.
Eu amo processos criativos. Processos de escrita,
e saber a rotina de um escritor (ou de qualquer artista, na verdade). Sou apaixonada!
Se você conhecer algum livro de um escritor contando sobre sua vida de
escritor (como Sobre a Escrita, do Stephen King; ou O Zen e a Arte da Escrita,
do Ray Bradbury) eu vou AMAR. Sério, sou fascinada por isso. Assisto vlogs de
escrita no YouTube sempre, e não importa se são de dez minutos ou de uma hora.
Quanto maior, melhor. Eu amo processos criativos, o meu ou o de qualquer outra
pessoa, literalmente. Se eu não soubesse como alimentar meu cérebro criativo,
provavelmente essa seria a maior frustração da minha vida. Mas, que bom que eu
aprendi.
Há tanta coisa envolvida no processo de escrever
um livro, que o ato físico de realmente e
s c r e v e r o l i v r o se torna quase que a coisa menos importante a
ser feita.
Muitas pessoas me perguntam sobre isso, sobre como
eu escrevo, como é minha rotina, será que eu escrevo duas mil palavras por dia?
E, não, eu sinto muito, mas não há resposta pra essa pergunta, porque, aliás, “como
é seu processo criativo/de escrita?” é uma pergunta mais difícil de responder
do que “Qual seu livro favorito?”. É simplesmente doloroso responder, porque há
tantas formas. Uma vez, tempo atrás, eu me acostumei a responder uma coisa
única. Eu tinha uma rotina, sim, claro, eu escrevia sempre pela manhã. Mas… um
belo dia parei pra pensar e vi que não, eu não estava mais escrevendo pela
manhã, mas continuava respondendo a mesma coisa. Aí parei de responder
rapidamente e comecei a pensar. A verdade é que não há uma resposta coringa. Se
eu tenho uma rotina de escrita? Não. Mas eu escrevo? Sim. Quando?
Aí é que tá.
Esse é o x da
questão.
Não precisamos escrever todos os dias e o tempo
todo para estarmos escrevendo um livro. O processo de escrever um livro envolve
muito mais do que colocar as mãos no teclado e escrever cenas, descrições e
diálogos. Envolve muita coisa que a maioria das pessoas não entende — eu sei
que minha família não entende — que é, por exemplo, passar uma hora inteira
durante a tarde, de repente, num transe, sentada no sofá, pensando. E ninguém
sabe sobre o quê, e chega um ponto que nem eu sei mais.
Percebi, há algumas semanas (apenas!) que ler é a
maior parte de escrever. Sim, eu sabia disso. Uma escritora que não é também
uma leitora ávida é como uma professora que nunca foi uma aluna. Não funciona.
E eu sempre li muito, como se minha
vida dependesse disso. E quando comecei a escrever, eu lia e escrevia ao mesmo
tempo. Só que agora, por exemplo, nesse momento, estou apenas lendo. Estou
lendo um livro atrás do outro, devorando páginas e descobrindo novos (e
antigos) autores, livros favoritos; lendo clássicos, contemporâneos, romance,
thriller, drama, comédia, contos, contos de fadas… estou lendo. E não escrevo
uma palavra há uns dias. Mas eu ainda estou escrevendo meu livro, SIM.
Escrever é muito mais do que simplesmente digitar
palavras para formar uma cena. Escrever é aprender coisas novas, é levar essas
coisas pro seu livro. É se conhecer melhor e entender seus horários, seu humor
certo e suas manias. Escrever é pesquisar MUITO e pesquisar mais um pouquinho
pra ter certeza. É fazer anotações no meio do dia, é se perder pensando naquela
cena incrível que escreveu na noite passada. É pensar sobre o nó que você deu
no roteiro e em como vai consertar isso, e passar três dias só pensando nisso,
para depois ir escrever a resolução dessas linhas entrelaçadas.
Escrever é uma constante. Um escritor nunca não está escrevendo.
E eu a m o isso.